terça-feira, 16 de abril de 2013

Rosana Parte II


Antes de tudo você precisa ler o início de tudo:



Uma das crianças que estava observando não quer esperar para ver o que acontece e corre de volta para a cidade. Segue em prantos direto para o padre e conta tudo o que estava acontecendo, dali segue pro pequeno bar, para a farmácia e vai correndo a cidade espalhando a notícia. Não demora muito a se juntar uma pequena multidão que marcha triunfante em direção à casa da bruxa.



Os homens mais novos e mais fortes vão na frente, cheios de hombridade e coragem. Mas ao chegarem perto da tosca cabana começam a ouvir estranhos barulhos. São gritos de desespero e de dor. São gritos animalescos e guturais de puro ódio. São risadas macabras e demoníacas. São barulhos de multidões sofrendo com se tivessem aberto os portões do inferno.

Tão rápido foi a multidão, tão rápido se desorganizou. Ninguém queria ir averiguar o que estava acontecendo. Começa uma discussão para ver quem seria o batedor e iria na frente. Os ânimos de exaltam e já estava começando a gritaria.

Um choro de criança ecoa da sombras das árvores, barulhos de ganhos quebrando, uma movimentação na penumbra. Uns 3 marmanjos fugiram de medo.

Sai uma garotinha, que estava no grupo de crianças a observar o que acontecia na janela. Ela estava pálida, sua boca roxa e o olhar catatônico. Seus olhos e ouvidos sangravam. Passado o primeiro susto as pessoas correm para socorrer a pobre garota.Tentam reanima-la sem sucesso. ela estava em um estado vegetativo e apenas balbuciava "ele tem fome... ele tem fome..."

Subitamente, silencio. Não há mais gritos, não há mais risadas, não há mais choro. A crescente apreensão que tomou o ambiente era quase palpável. todos olhavam para todos os lados, atentos à qualquer coisa.

A porta da casa se abre lentamente. Aquele típico rangido de porta velha abrindo preenche o ar. Uma coisa é jogada no meio da multidão que entra em panico quando descobrem que se trata da cabeça maltratada de Abgail.



Gritaria.

Rosana está parada à porta. Estava um pouco curvada com a camisola simples tingida de vermelho. Suas mãos e seu rosto igualmente cobertos de sangue. Ela segurava uma das crianças, agora uma massa disforme de carne e ossos, pelo pé. Ela sorria. Ninguém ousava nem respirar. O silêncio era angustiante.

Em sua mente Sallos cantava, ele estava logo atrás de Rosana que não conseguia resistir. Ela tinha que dançar.

Ela grita com uma voz que não era dela. Soava demoníaca: "TENHO FOME!" e avança direto para a multidão e o caos reina em meio ao pequeno destacamento de corajosos e, principalmente, curiosos. Ela arranha, morde, bate com toda a sua fúria sem ver à quem. As pessoas tentam correr e se defender e no meio da confusão muitas pessoas são pisoteadas.

A outrora frágil Rosana parece agora ter a força de 10 homens. Ninguém consegue detê-la, até em um momento ela pega uma criança que chora desesperada. Aquele som perece ter tirado Rosana daquele estado bestial e ela vacila por um momento.

Foi tempo suficiente para ter seu peito trespassado por uma lâmina. Os olhos de Rosana se tornam vermelhos como em brasa e a razão a abandona novamente.

Ela se vira para ver quem foi seu agressor. Era o filho do prefeito. O garoto mais popular e sádico entre os jovens. Era o que mais maltratava e o que pregava as piores e mais dolorosas/vexatórias peças nos mais fracos e esquisitões.

A visão daquele rosto foi como uma inveção de ódio em Rosana que num golpe rápido e certeiro agarrou a traqueia do garoto e sem dificuldades a torceu num sonoro estalo. A multidão vê o jovem rapaz se contorcendo, tentando se agarrar ao que lhe restava de vida. Sem sucesso. Seu pai gritava e tentava reanimar o cadáver em seus braços.

Quando se dão conta, Rosana havia fugido e todos seguiram seu rastro. Ferida e cansada ela segue para o único lugar que faria sentido em sua mente. Seu lugar secreto, seu esconderijo seguro. O roseiral.

Rosana se esconde nas sombras entre a densa mata, entulho e galhos, Sallos está do seu lado, ele faz um carinho no cabelo da garota assustada.



- O que aconteceu comigo? disse Rosana chorando. Eu não sou um monstro! Eu não fiz aquilo!!

Pranto.

Sallos olha diretamente em seus olhos e diz: 

- Sim, minha cara. Você não é um monstro, mas pertence à um!

E começa a rola no chão rindo.

- Você não entendeu? Pode até ter voltado à razão mas você... é... minha... 

Rosana estava cansada e ferida. Sem forças até para falar. Ela simplesmente deitou a cabeça no colo de seu único "amigo" e desistiu. Ele entendeu.

Sallos acariciando os cabelos sujos de Rosana começou a recitar algumas frases bem baixinho. Algo que Rosana não entendia, mas para ela soava como uma cantiga de ninar. Aos poucos ela foi perdendo a consciência e tranquilamente ela se entregou à inconsciência. Ela só queria descansar.

Sallos viu quando o último traço de racionalidade de Rosana se extinguiu e baixinho disse ao beijar sua testa. 

- Agora seu corpo é meu. E minha fome é sua. Levante minha pequena besta e vamos comer!

Se alguém visse Rosana naquele momento iria congelar de medo. Ela ficava de quarto com a coluna estranhamente torta. Seus membros pareciam desproporcionais à seu tamanho. Seus olhos eram de um vermelho vivo e seus dentes e unhas pareciam de um grande felino. Alguma coisa chama atenção de Rosana.



A multidão chega ao Roseiral com grande alvoroço, muitas pessoas falando, muitas tochas e lampiões. Aos poucos as pessoas foram se espalhando. Grande erro.

Na escuridão da noite gritos desesperados diziam que Rosana estava atacando os mais desatentos. Houve um breve início de confusão de novo mas o prefeito, movido à vingança pela morte prematura e cruel de seu filho, conseguiu reorganizar os poucos que sobraram.

"Se essa criatura é uma encarnação do inferno. Que ela queime como tal!"

E começou a incendiar as rosas e o matagal. Os outros homens fizeram o mesmo cercando Rosana num grande anel de fogo.

Iluminada pela luz do fogo eles viram ela montada em cima do cadáver de um jovem rapaz, lambendo avidamente sua mão suja de sangue. Ela não tentou fugir, simplesmente ficou ali encarando as pessoas enquanto o fogo chegava perigosamente mais perto.



O fogo rapidamente saiu do controle e se tornou um gigantesco incêndio. Não sobrou nada, apenas cinzas e os corpos queimados das vítimas de Rosana. Já seu corpo jamais foi encontrado.

Hoje a cidade cresceu, cheia de automóveis, engarrafamentos, pessoas e arranha-céus. A história de Rosana se tornou folclore local, uma história que as mães contam para seus filhos se comportarem. Mas alguns poucos, principalmente os mais antigos, sabem que a cada ano algumas garotas e garotos de 15 anos desaparecem misteriosamente e em todos os casos está, como uma assinatura macabra, uma rosa vermelha.


quinta-feira, 4 de abril de 2013

O motel

[Mais uma baseada num capítulo do seriado 13 medos - As imagens são do capítulo =) ]



Letícia vinha dirigindo a muitas horas, por uma rodovia que  é conhecida por ser interminavelmente grande e tediosamente reta. Já era madrugada e o cansaço começada a dar seus primeiro sinais. Ela foi informada no último posto em que abasteceu que seguindo em frente haveria um pequeno motel. Modesto mas aconchegante, disse o frentista.


Contentrada tentando localizar o motel, Letícia passou por uma mulher na beira da estrada acenando, provavelmente pedindo carona, mas o cansaço era maior e Letícia passou direto. O motel deve estar perto, pensava para se animar.

Um som baixinho veio do banco de trás, quando Letícia olhou no retrovisor havia uma mulher com um grotesco corte já necrosado em seu pescoço. A mulher então agarra Letícia gritando por socorro.

Um carro vindo na contra mão bozina e acorda Letícia, que agora estava bem preocupada. Ela tem o costume de viajar muito mas nunca dormiu no volante. 







Luzes afrente.

Piscava na escuridão: M O T E

Aliviada Letícia estaciona e segue direto para a recepção, que estava vazia. Ela bate algumas vezes na campainha até que surge um sujeito gordo, malcheiroso e com uma cara de péssimo humor.

Combinado os preços o homem pergunta se Letícia tem alguma preferencia de quarto. Já que ela era, até o momento, a única hóspede daquela noite. Ele fala de forma insinuante que sugeriria o quarto número 1 que era o mais proximo da recepção e abre um sorriso grotesco. Letícia com evidente asco escolho o mais distante, o quarto 13.


Chegando ao quarto, direto para a cama. Mal fecha os olhos, um barulho começa a incomodar. Era como um choro bem baixinho, um gemido, vindo do quarto ao lado.

Já irritada, Letícia bate na parede pedindo silêncio. O som para, porém, logo após surge outro. Dessa vez o som vinha de fora do quarto, ela olha pela janela e vê aquela mulher que estava na estrada sentada num balanço abandonado e bem enferrujado, encarando a janela do quarto 13. Elas trocam olhares e a mulher sai. Tem algo errado com essa moça, pensa novamente Letícia. O som recomeça mais alto no quarto ao lado. 

Os gemidos e o choro ficaram mais altos e mais desesperados. Letícia assustada corre até a recepção e bate repetidas vezes a campainha até o homem surgir novamente. Seu humor havia piorado.

Ela conta dos barulhos no vizinho e o homem disse que era impossível já que ela era a única hóspede. Letícia insiste e diz que vai ligar para a polícia. O homem tentando manter a calma respira fundo e pega a chave #12.

como era esperado o quarto estava completamente em silencio e vazio. O homem olha contrariado para Letícia e pergunta se pode finalmente voltar a dormir e sai resmungando.

Letícia volta constrangida. Ao fechar a porta o som recomeça. Ela encosta o ouvido na parede para tentar identificar o que era aquilo quando uma forma humanóide se projeta da parede.

Era como se alguem estivesse atrás de um pano e estivesse tentando rompê-lo. Essa forma gritou NÃO DEIXE QUE ELE TE VEJA!!


Com o susto Letícia tropeçou e caiu, batendo a cabeça na quina da cama.

Tontura. dor. sangue.

Ela cortou a cabeça, e se levantou devagar porém outro susto veio. Alguém tentava abrir a porta do quarto. Ela corre pelo quarto procurando um lugar para se esconder. Acaba trancada no banheiro.

Olhando pela fechadura viu a mulher que pedia carona entrar com um homem encapuzado. Eles conversam algo e o homem tenta assediar a mulher, que nega educadamente.

O homem se exalta e tenta agarrar a mulher à força. Ela luta e rasga a manga da blusa mostrando uma enorme cobra tatuada no braço esquedo do homem. Consegue se soltar e corre para o banheiro, mas o homem a puxa pelos cabelos e num golpe preciso corta sua garganta. A mulher agoniza no chão olhando diretamente nos olhos de Letícia.

Quando quedou inerte no chão o homem calmamente pegou uma marreta e abriu um buraco na parede e acomodou o corpo da mulher. Letícia que observava a tudo em pânico deixou escapar um gemido.

O homem ouviu.

Letícia tentou trancar a porta mas descobriu que o trinco estava quebrado, o homem veio furioso tentando abri enquanto Letícia tentava mantê-la fechada com as costas na parede e empurrando com as pernas. Mas o homem era mais forte e conseguiu esgueirar um braço e botar o pé para impedir a porta de fechar.

Tateando ele alcançou a perna de Letícia e puxou com força. A porta abre.


Tontura. dor. Sangue.

Ela cortou a cabeça, e se levantou devagar. Demorou alguns segundos para ela se recuperar do desmaio. Assim que se sentiu com os pés firmes correu para a recepção de novo. Gritou pelo homem que se assustou com a mulher invadindo sua sala e pegando um martelo numa caixa de ferramentas jogada ali no canto.

Ele foi seguindo aquela maluca perguntando o que estava acontecendo. A mulher gritava que sabia onde "ela" estava que era para ele chamar a policia.

Letícia voltou ao quarto e foi direto para a parede. Sem exitar começou a golpear com toda a força. O homem gritava nervoso que ela ia pagar o conserto, que ela tinha enlouquecido.

Batidas, batidas, batidas.

Um grande buraco já se formara na parede e um braço apodrecido se estende. Letícia olha assustada para o homem mostrando o achado.

Ele sorri e arregaça as mangas. Uma grande cobra surge tatuada em seu braço esquerdo. rapidamente ele saca uma faca e ataca Leticia que no susto desviou no último segundo, ainda levando um corte severo no rosto.

Ela ficou no chão sem reação, o homem se aproxima tranquilamente e num golpe certeiro corta sua garganta. 

Seu humor parecia ter melhorado.






Amanda odeia dirigir à noite, mas parece que não existe lugar para passar a noite naquela maldita rodovia. Ainda bem que o frentista do posto disse que havia um motelzinho ali perto. Na falta vai esse mesmo.

Enquanto tentava achar esse tal motel, ela passou por uma mulher na beira da estrada gesticulando. Esses hippies tem muita coragem de ficar pedindo carona no meio dessa escuridão, eu que não paro.

Um barulhinho no banco de trás. Quando Amanda olha pelo retrovisor quase perde o controle do carro. Uma mulher com um grande corte no pescoço e no rosto a agarra gritando por ajuda.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Duas almas

[Escrevi esse texto baseado no primeiro capítulo de uma série chamada 13 medos (disponível no NETFLIX, beeem ruizinha ahahah) e também aproveitando o dia da mentira]

Hoje é um dia especial.

Pedro e Carol completam hoje sua segunda década de casamento. Estão todos ansiosos, Pedro preparou uma noite especial para sua amada mulher. A muito tempo eles não tem uma noite tranquila, sem os seus filhos para atrapalhar, Miguel de 17 anos e Ana de 8.

Tudo estava combinado, Miguel já era um rapazinho e iria tomar conta da casa e de sua irmãzinha. 

Carol está com um mau pressentimento, coisa de mãe. Ela quer avisar aos vizinhos que vão sair mas Pedro a acalma. Eles moram em um condomínio seguro e tranquilo, e como eles são novos na vizinhança não conhecem os vizinhos. Ela acata e se acalma.

No caminho o casal conversa animado. Pedro fazia suspense sobre o que tinha planejado para essa noite especial. Carol desiste de tentar descobrir a surpresa quando começa a tocar a música deles no rádio. Ela fica toda animada e acaricia o marido com amor. Eles estão felizes.

Carol começa a retocar a maquiagem e Pedro começa a observá-la. Como é linda, como a ama mesmo depois de tantos anos de casados. Ele fica encantado, sua mulher parece que emite uma luz própria.

Uma luz forte envolve o casal. Faróis vem em direção contrária e o consequente choque. Carol é arremessada pelo para-brisa seu corpo pousa ensanguentado no capô retorcido da pickup afrente. Pedro foi protegido pelo cinto de segurança, mas a colisão foi forte e fica dificil se manter consciente. 

Antes de apagar, Pedro observa o outro motorista. Um homem branco, de cabelos pretos e uma grande cicatriz cruzando o lado esquerdo do rosto. Aos poucos a vida deste indivíduo se esvai, e Pedro se entrega à inconsciência.

O casal está feliz conversando animadamente no carro. Pedro observa sua mulher, como ela é bela, como a ama mesmo depois de tantos de casamento. Carol para de se maquiar e diz "olhe para a estrada" Pedro parece hipnotizado e Carol grita diversas vezes "olhe para a estrada" e começa a chorar sangue.

Pedro preocupado limpa a face de sua amada, incrédulo. Olha para os seus dedos... sangue??? Quando ele vai perguntar para Carol ela está completamente ensanguentada e deformada. "OLHE PARA A ESTRADA".

Susto. Desorientação. Escuro. Onde estou? Parece um hospital...

Pedro, apesar de sobreviver, estava muito ferido. A colisão frontal foi em alta velocidade.

O médico faz algumas perguntas de rotina para garantir que não havia sequelas cerebrais ao paciente, visto que estava em boas condições chamou um estranho. Era um agente da policia que veio pegar esclarecimentos. Pedro não gostou muito, não queria conversar mas não teve muita escolha.

- O senhor se lembra do que aconteceu?
- Eu estava com a minha mulher no carro, tocou nossa música no rádio e não me lembro de mais nada.
- O senhor trafegou pela contra-mão, e na curva colidiu de frente com uma pickup que vinha no sentido contrário
- E minha mulher!!! ONDE ELA ESTA???
- ....

Pedro chora, se sentia culpado. Por que ela e não ele??

O policial continua:

- O senhor por acaso conhecia o homem do outro carro?
- Não! Como poderia conhecer??
- Ele era procurado pela polícia de 8 Estados...
- Eu... não me sinto bem...
- Entendo, me desculpe...

Assim que o policial fecha a porta Pedro cai no sono. Não se sabe por quanto tempo ele dormiu, quando acordou tarde da noite o quarto estava escuro e ele morria de sede. Tateou pela mesinha ao lado da cama tentando encontrar um copo quando ouve "procurando por isso?"

No canto do quarto um homem estava sentado, segurando o copo de forma delicada. Ele era muito elegante, vestido num justo terno preto, sua fisionomia não era muito visível pois as sombras cobriam seu rosto, mas dava para notar que sua tez era pálida.

O estranho se levantou e serviu Pedro que bebeu devagar e desconfiado tentando reconhecer aquele indivíduo.

- Pedro, Pedro... Você fodeu tudo não é mesmo?
- Como? Quem.... é você?
- Sua mulher está morta e por culpa de quem? (dá um tapinha no ombro machucado de Pedro)
- Saia daqui seu desgraçado, ou eu vou chamar a enfermeira!!

Pedro começa a apertar o botão para chamar a enfermeira ou alguém mas nada acontece. O homem ri, arranca da mão de Pedro o botão e o começa a apertar também e faz uma cara de deboche dando de ombros.

- Você amava sua mulher, Pedro?
- Mas é claro!! Eu faria tudo para salvá-la...
- BINGO!! Resposta certa!! E se eu te dissesse que há uma forma de salvá-la?
- Você é louco ou sádico?? Ela está morta! É claro que não....


Alguém toca a mão de Pedro. Quando ele olha não acredita em seus olhos. Era Carol sorrindo pra ele, linda e radiante! Pedro tenta perguntar algo ao estranho indivíduo, mas ele tinha sumido. Um aperto em sua mão. Não era Carol era aquele homem.

- Quem... Quem é você?

O estranho se aproxima um pouco, a luz parece fugir de seu rosto mas Pedro conseguiu notar os olhos estranhamente negros.

- Ah Pedro... Você é um cara inteligente, não faça perguntas que já sabe a resposta. Veja, eu posso trazer sua mulher de volta, e você ainda poderá salvar a vida daquele homem que morreu no acidente. Pense bem... Duas almas...
- Em troca do quê??
- Eheheh... Duas Almas....(resmunga alguma coisa...)
- Em troca do que????
- Isso é mero detalhe, você não precisa saber...

Pedro está atormentado, mas é a única chance de salvar sua amada. Redimir seu erro, tão pequeno, mas com consequências tão colossais... Ele estava disposto a dar sua alma ao demônio pelo seu amor! Ele não se importava mais consigo mesmo.

- Do que você precisa?
- Digamos que eu sou um cara... moderno. Relaxa, não precisa assinar um contrato em papiro com seu sangue isso é tão brega! (solta uma risada)
- E o que eu faço? Um beijo?
- Você não é meu tipo. E pare de assistir seriados! Eles são mentirosos!! (outra risadinha) Apenas diga "de acordo" e me de um entusiasmado aperto de mão. Imagine que sou um vendedor e você acabou de comprar o carro dos seus sonhos para viajar com sua esposa!! Ops.... (ele tava a boca de um modo debochado e gargalha novamente.)

Pedro estende a mão.
- De acordo...
- O que, eu não ouvi-iii... ANIMO!!
- DE ACORDO!

Apertaram as mãos.

Escuridão. Estrada. Música. Risada.

- Olha amor!! Nossa música está tocando no rádio!!

Pedro demora a se orientar. Ele está no carro. Sua mulher está retocando a maquiagem. Não é possível!! Deu certo!! Ela está viva!!

Carol pergunta à seu marido se está tudo bem, ele ficou estranho do nada. Aconteceu alguma coisa? Não meu amor! Diz ele com uma risada nervosa... Ele parece apreensivo, como se algo fosse acontecer...

Quando uma velha pickup vem na direção contrária, Pedro solta um suspiro nervoso e diminui a velocidade e parece que só volta a respirar quando o outro carro está longe. Ele encosta o carro.

- Você está bem Pedro? O que está acontecendo contigo
- Sim!! É que eu....você..... Eu te amo!!! Mudança de planos!
- Como? E a surpresa?
- Ah.. surpresa tive eu!! Vamos pra casa, eu vou cozinhar para você, a gente curte um pouco as crianças e depois tomamos um demorado banho de banheira.
- Mas você não queria...

Pedro a interrompe com um beijo lascivo e dá meia volta sorridente. Carol não entende nada mas estava gostando da animação do marido.

Chegando em casa Pedro é tomado de um mal pressentimento. Em frente à sua casa ele cruza novamente com aquela velha pickup. Eles passam devagar lado a lado. Pedro nota a grande cicatriz no rosto do homem. Definitivamente era o cara que ele tinha batido... O homem da pickup o encara com um olhar frio e vazio. Algo está errado.

Pedro estaciona o carro e desce correndo. A porta está aberta? Ele entra desesperado.

Carol ainda está entrando em casa quando ouve Pedro gritar em desespero do quarto de seus filhos.

***

O policial pergunta para Carol o que aconteceu, ela não sabe explicar. Ela está muito nervosa, chorando descontroladamente e não consegue falar direito. Mostram para ela uma foto de um homem branco, cabelos pretos e uma grande cicatriz cruzando o lado esquerdo do rosto.

Dois enfermeiros cochicham entre si
- Era esse o homem?
- Ela não viu. Só se lembrou de ter notado a cicatriz grotesca.
- Esse homem é procurado em vários estados. Ele é um serial killer cruel. Sempre tortura antes de matar. São tantas vítimas que já não se tem mais uma proporção de quantas vidas ele já tirou. Sempre crianças...

O policial se aproxima de Pedro.

- Desculpe senhor mas precisamos que...
- Duas almas por.... 
- O quê?
- Duas almas....

Pedro estava sentado na escada balançando e balbuciando baixinho. Quando o policial tocou em seu ombro ele diz com um riso estérico de quem entendeu uma piada macabra.
- Duas almas por duas almas...Duas almas por duas almas...Duas almas por duas almas!!!!

quarta-feira, 27 de março de 2013

Obra Prima


Minha obra prima... Sei que você não pode me ouvir mas, por favor, aceite minha confissão, minha oferenda. Você não me conhecia, mas eu te conheço há muito tempo. E eu não sei se eu deveria dizer isso, mas ... Eu te amo.



Eu te amo tanto, que eu construí todo um mundo para você, para que você possa viver  para sempre. Um reino para uma deusa. Eu o concebi apenas depois que eu a vi em sua mais perfeita forma.

Acredite! Eu não estou bravo com você, nem magoado. Sei que você rejeitou meu amor por estar confusa, talvez por eu ter tomado a iniciativa de me declarar inadvertidamente. Eu sei, o amor as vezes assusta.

Quando eu te empurrei da sacada não foi de raiva, eu não queria, mas você está destinada a ser minha. Você não vê?

Eu desci correndo desesperado com medo de perdê-la. Mas quando te alcancei percebi que você era a minha deusa da beleza e da perfeição.



Você estava tão bonita ali, com seus olhos sonhadores ternamente fechada. Sua pele quase translúcida, que parecia estar ficando mais e mais pálida a cada segundo. A forma como os seus membros foram torcidos, delicadamente mutilados nas articulações para formar uma visão tão sobrenatural de vulnerabilidade...

Oh, que deve ter sido uma queda tão longa. Não só o edifício possuir altura incrível, mas eu sei como o mais glorioso dos anjos deve cair mais longe. Oh, meu anjo. Meu anjo se contorceu no chão. Sua carne macia havia sido raspado apenas nos lugares certos, revelando a formação artística de seu corpo interno, as curvas e formas de seus ossos.

Ninguém jamais poderia apreciar tal visão, apenas eu, o escolhido! Eu admirava a curvatura do seu pescoço, inclinado num perfeito angulo 90 graus para a direita e um pouco torcido para trás leve e delicado.

Assim que eu te vi em sua divina forma, eu precisava chegar mais perto, tocar você. Eu tremia em antecipação enquanto meus dedos deslizavam para baixo do seu sagrado corpo, certo de onde ele já estava começando a se dividir. Ele surpreendeu-me com emoção, fazendo-me pensar a cada segundo no seu gracioso voo.



E eu te carreguei... Não se preocupe, eu fui cuidadoso, certificando-me de que não danificaria o que restou de seu corpo. Alguns fragmentos do seu crânio caíram no caminho, mas eu era rápido e os coletava e os colocava para dentro. Não se preocupe, você ainda estava em uma peça quando eu trouxe para casa. Eu te trouxe para colocar na minha cama, com os braços quebrados cruzados sobre seu peito.

Você parecia com os corpos bonitos em contos de fadas antigos. Ainda mais quando eu te vesti com o vestido de casamento da minha mãe. Corri em meu estúdio e peguei meus materiais. Já os tinha separado a muito tempo, pensando nesse momento crucial!

Uma grande tela, arames, pregos, resinas, conservantes, formol e materiais químicos

Então te transformei em minha obra prima, um quadro eterno e perfeito de sua divindade. Eu criei a sua vida após a morte, o seu reino encantado onde você existe absoluta! Um pouco como o mundo que você merece. Então eu poderia continuar amando você, você e suas feridas.



Eu te tornei eterna, A me contemplar com seus olhos enegrecidos, seu salvador. Você vai viver de novo, com amor e beleza que nunca morrerá, suas feridas sempre serão frescas, e seus ossos contorcidos e mutilado como quando te encontrei. Talvez você não será de sentir o meu toque... Mas pela primeira vez.... Nossos fluidos irão se misturar, se confundir. Perfeita comunhão... Meu suor, meu sêmem  môrno. O seu sangue frio ...

Não se preocupe, meu amor.

Eu vou ser tão gentil.... como sempre fui....

terça-feira, 26 de março de 2013

O porão


"Uuugh .. o.. o que me aconteceu ..?"

O homem acordou em um porão e esfregou a testa, gemendo, e fechando os olhos antes de olhar ao redor.

Breu.

Tudo o que ele conseguia se lembrar é de ter ficando bêbado e ir para casa com alguma mulher. Estava escuro, e ele começou a levantar-se, quando se apoiou no chão sentiu algo molhado. Parecia... estranho. Como uma espécie de mistura de pedaços macios e líquido.

Ele deu alguns passos cambaleantes, de vez em quando de ouvir uma espécie esguinho, como se estivesse pisando nas entranhas de alguém ou em alguma coisa encharcada. Encontrando a parede, ele sentiu que em quase toda parte houve algum tipo de líquido.

Depois de tatear pela parede, ele achou um interruptor de luz. Uma luz muito, muito fraca e vacilante invadiu o ambiente. Ele olhou para seus dedos e não aguentou.

Sangue?

As bebidas da noite anterior subiram depressa! Vomitou e gemeu. Então ele viu o chão..... e tentou engolir uma nova regurjitada.

Vômito, sangue, urina, e muitos outros líquidos corporais foram salpicado contra o chão e as paredes. Entranhas e cérebros, entre muitos outros órgãos, foram arrastados e jogados por toda a sala, alguns aparente .. parcialmente comido?!

Novamente, ele não poderia segurar .. HAULLLL! Ele gemeu e estremeceu.

Passos.

Ele ouviu o som de pés batendo no andar acima, e rapidamente desligou as luzes e sentou-se no canto escondido.

Horas se passaram, e ainda, o homem continuou sentado, imóvel, no sangue, urina, vômito e órgãos que coberiam de canto. Suas pupilas se acostumaram à escuridão, e ele quase podia ver perfeitamente. Mas sua mente não estava preparada para um ambiente como aquele.

Quando tudo pareceu calmo, ele resolveu tentar abrir a maciça porta de metal. Estava trancada!! As janelas eram pequenas e gradeadas. Não havia saída daquele lugar.

Passaram-se horas... Ou seriam dias?

Ele começou a ouvir vozes. Disseram-lhe coisas .. coisas horríveis, horripilantes... Vinham de fora da sala? Vinham de sua cabeça? Ele se sentia vigiado, ele ouvia os pequenos risinhos de seu vigia. Estava ficando louco?

Uma noite .. ou qualquer hora que fosse .. ele estendeu a mão e agarrou o estômago de alguém, então devorou-o. Ele começou a engatinhar, silencioso, sereno, e comeu órgãos e tudo o mais que pudesse encontrar.

Finalmente, um dia, de repente ele começou a espumar pela boca. Um chiado de alta-frequência começou a encher a sua cabeça, bloqueando qualquer som, inclusive as vozes. Ele caiu, contorcendo-se, gritando, se contorcendo de dor, rolando na mistura visceral no chão. Sangue começou a se misturar à espuma branca que escorria de sua boca e descia de seu queixo e se integrou à macabra receita daquele lugar.

De repente, o sangue jorrou de sua boca e caiu sobre todo seu rosto. Seus olhos ficaram brancos, sua boca ainda aberta. A espuma finalmente parou, mas agora ela era rosada de todo o sangue que se juntou a ela.

A luz brilhou novamente. Uma mulher nua entrou. Corpo exuberante, cabelo loiro sedoso cobria o rosto e a cabeça. Ela pegou o homem pelos braços, em seguida, arrastou-o, arrastando-o para seu quarto. Hoje será uma noite de prazer.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Estações de Números


Imaginem a situação: Você encontra um rádio amador, e fuçando na frequencia de AM você começa a escutar uma mulher repetindo uma sequencia de números, alguns bips e algumas pequenas melodias durante 24 horas, sem mudanças. O que você pensaria que é? Estranho demais não? Pois é, ninguém até hoje tem uma resposta. Esse tipo de transmissão já é ouvido no mundo todo desde a primeira guerra mundial. Cada país tem suas variações de conteúdo nas transmissões mas ninguém tem uma explicação.




Após o ano de 1.980 época em que os fabricantes tradicionais de transceptores para o Serviço de Radioamador tanto os americanos como os japoneses iniciaram a fabricação de equipamentos cujos receptores passaram a funcionar com uma cobertura total das ondas curtas, ou seja, fazem a recepção em banda corrida desde 1.8 MHz. até os 30 MHz., como resultado desta possibilidade de escuta muitos radioamadores e radio escutas dedicaram-se a explorar as freqüências fora das bandas de radioamador e para surpresa geral encontraram sinais de rádio sumamente estranhos...

Ao sintonizar o receptor do rádio nas freqüências ao redor das utilizadas em ondas curtas, na parte da manhã ou na parte da noite existe sempre a oportunidade de se ouvir um certo número de estações que transmitem números e letras em diversos idiomas, como o espanhol, inglês, russo ou alemão.

Estas estações acabaram ficando conhecidas como "Estações de Números".

As primeiras transmissões das misteriosas "Estações de Números", foram escutadas pelos rádio escutas em princípios dos anos 60, somente mais tarde por volta de 1.980 veio a despertar maior interesse, foi nesta época quando os radioamadores e rádio escutas começaram a observa-las melhor pois dispunham de melhores receptores principalmente os de banda corrida e melhores antenas, sendo também desta época a existência de muita especulação sobre o assunto e sobre a finalidade destas estações, que realmente acabaram gerando muita confusão e muita "fofoca" nos meios Radioamadorísticos.

Qual seria a finalidade destas estações? 
Para quem estariam transmitindo estas estações? 
O que estas estações estariam transmitindo? 
Seriam previsões meteorológicas codificadas? 
Seria talvez parte de um estranho sistema de balizamento? 
As possibilidades de questionamento eram infinitas...

Alguns radio escutas inclusive chegaram a imaginar e afirmar categoricamente de que estas estações com suas transmissões formavam parte de algum projeto secreto para comunicar-se com os "OVNIS", que naquela época estava muito em evidencia.

Mais tarde chegou-se a uma espécie de consenso coletivo na qual estas transmissões seriam mensagens enviadas por diversas agencias de inteligência e espionagem de diversos países para seus agentes em campo aberto, único sistema de contato disponível para comunicar-se com os seus agentes.

Foi nesta mesma época quando os radioamadores e radio escutas mediante as técnicas de seguimento e radiogoniometria realizadas descobriram que os lugares de emissão dos sinais de rádio transmitido pelas "Estações de Números" localizavam-se na antiga Alemanha comunista do leste e também localizaram uma "Estação de Números na Alemanha Democrática do oeste, desta forma existiam estações nas duas Alemanhas, alem de também terem sido descobertas estações com as emissões iguais provindas da Nicarágua, Cuba e assim também de certas bases estadunidenses, com estas descobertas a teoria passou a ser quase uma certeza, sendo que finalmente acabou sendo confirmada por ex espiões americanos e ingleses.

Assim sendo, nesta época alguns dos ex espiões americanos e ingleses aposentados que ao escreverem suas memórias divulgaram em seus livros que as "Estações de Números" fazem parte de um complicado sistema de comunicação e suporte das agencias de inteligência e espionagem que fazem as transmissões destes sinais para enviar certas instruções necessárias aos seus agentes.

Porém, os radioamadores e os radio escutas que possuem o habito de "corujar em" as freqüências se deram conta de que mesmo com a queda do muro de Berlim, com a unificação das duas Alemanhas, com o final da guerra fria, com a falência da antiga União Soviética com a guerra do Afeganistão, com guerra do Iraque e até com a atual globalização estas estações não reduziram suas transmissões como era de se esperar, todas estão transmitindo normalmente ate os dias de hoje, inclusive as estações que se encontram nas duas ex Alemanhas continuam transmitindo com a normalidade de como sempre o fizeram, como que nada tivesse acontecido.

As "Estações de Números" encontram-se desde a parte mais baixa das freqüências como em 2 MHz. e na parte mais alta das freqüências como em 26 MHz., as transmissões são em CW (wikipédia explica aqui) e fonia.

Estas estações podem ser ouvidas a qualquer momento do dia, mais a sua atividade tende a ser maior desde as 00:00 UTC, às 08:00 UTC, caros colegas vocês podem procurar que certamente iram encontrar.

domingo, 17 de março de 2013

ALMA



Essa creepy eu fiz baseada num curta um tanto antigo até... Dessa vez nao postei nenhuma imagem pois uma amiga muito talentosa ficou de ilustrar o texto pra mim. Assim que ela me entregar eu já posto aqui. (Desculpe à ilustradora, eu nao aguentei esperar e vou postar)


Eis o video que inspirou o texto.




Uma menininha brinca sozinha nas vielas desconhecidas do subúrbio da cidade. Como é legal o inverno, ela pensa. A neve dá muito mais diversão Às brincadeiras.

Ela tenta esconder, mas está chateada. Hoje nenhum dos coleguinhas podia sair para brincar. As mães estão assustadas...

Está acontecendo uma onda de desaparecimentos de crianças. As autoridades não temnenhuma pista do captor. Aulas foram suspensas e os parquinhos, antes lotados e barulhentos, estão desertos.

Mas aquela garotinha era corajosa (e desobediente) saiu de casa pela janela do quarto enquanto fingia que estudava. E agora, sozinha na rua, procurava algo divertido para fazer.

A entediada aventureira andando distraída acabou entrano num beco que nunca vira antes, alguma coisa ali chamava a atenção... A curiosidade falou mais alto e ela foi observar mais de perto.

Nesse beco havia um muro todo riscado com inúmeros nomes, que pela caligrafia, eram de crianças. A garotinha viu o nome de alguns coleguinhas e isso a deixou bem chateada. Por que ninguém me falou desse lugar antes? Saudade. Ela não via seus amigos a muito tempo e não entendia bem o motivo. Os adultos nunca contam as coisas para as crianças.

A garotinha encara o muro e uma vontade irresistível  de escrever seu nome ali cresce dentro dela. Por sorte havia um giz ao pé do muro e um espaço bem destacado em branco.

Com todo o cuidado para sua letra sair bem bonita ela começa a desenhar bem devagar...

A.....L.....M.....A....

Ela olha triunfante seu nome bem grande, bem bonito e bem no meio do muro, destacado.

Um estalo  às suas costas a assusta.

Alma não tinha notado... mas havia uma loja naquele beco. Sua fachada era de madeira e a vitrine tinha a forma de uma grande boca aberta com os dentes à mostra. Mas, espera... o que é aquilo? uma... Boneca?

Maravilhada, Alma vê na vitrine uma boneca exatamente igual a ela. Os mesmos cabelos claros curtinho, os mesmos olhos azuis, até as sardinhas no nariz!! A boneca estava usando o mesmo vestido estampado, com botinhas e gorro. Era incrível demais para uma criança!

Ela tenta abrir a porta e para sua frustração está trancada. Tenta e tenta sem sucesso. Frustrada ela pensa "daria tudo para entrar..."

Click...

A porta se abre lentamente...

Alma dá um passo para trás e espera alguém sair. Nada acontece. Ela começa a ouvir bem baixinho, um som distante... alguém chamando pelo seu nome. Alma caminha relutantemente para a porta entreaberta e a empurra devagar. De longe ouve seu nome. A Visão deixou a criança fascinada. Quem a está chamando?

A loja era pequena mas estava cheia de várias bonecas de todas as formas e estilo. Eram todas lindas!

Ela conseguia ouvir o seu nome mais alto, parecia mais perto.

Tentou dar o primeiro passo para dentro da loja mas um forte puxão e um grito a assustou!

ALMA O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?

Era a sua mãe desesperada! Quando foi levar um lanche para a filha e viu o quarto vazio e a janela aberta saiu em disparada pela cidade.

Alma quase morre de susto. Mas o mais assustador foi ver a expressão da mãe. Será um castigo severo na certa! Tentou mostrar para a mãe a boneca da vitrine mas estava vazia. Em casa, depois da bronca homérica Alma não conseguia parar de pensar na loja. Ao dormir sonhou que as bonecas eram vivas e que elas brincavam a noite toda.

Dias se passam e a Mãe preocupada com o confinamento e a crescente ansiedade da filha, resolve chamar algumas amigas (com seus filhos) para um chá e um momento de bate papo. Assim as mães colocam os assuntos em dia e as criança podem se distrair um pouco.

A assunto dos adultos entre as xícaras de chá e bolachas invariavelmente foi a preocupação pelos desaparecimentos das crianças que até o momento continuava sem explicação. Já entre as crianças, Alma se gabava da sua descoberta daquele lugar maravilhoso. Nenhum dos coleguinhas conheciam aquele beco e muito menos a loja de brinquedos.

O primo de Alma, Pedro, era o mais velho da turminha e disse que no dia seguinte teria de ir ao mercado comprar algumas verduras para a mãe e no caminho aproveitaria para conferir o beco e ver o que mais descobria.

No dia seguinte Alma vê sua tia chegando e desce animada para ter as notícias do primo. Quando chega na sala ve a tia chorando e sua mãe tentando consolá-la. Sem entender bem o que se passava subiu para o quarto e decidiu que ainda hoje voltaria àquele lugar!

Aproveitando que sua mãe, pelo visto, ficaria muito tempo ocupada com sua tia. Alma saiu dessa vez pela porta da cozinha e correu até o beco! Para sua sorte a porta da loja estava aberta e ela entrou confiante. Quantas bonecas, quantos brinquedos mas nenhum atendente, era apenas ela e o silêncio.

Andando devagar ela chuta algo, era o boneco de um meniniho montado num pequeno tricíclo. O boneco parecia movido a corda e começa a pedalar. Alma o coloca no chão para ver até onde ele vai e o boneco dispara em direção à porta que se fecha segundos antes dele atravessar. O boneco fica batendo na porta. Chato! pensou Alma!

Olhando em volta ela vê um bonequinho idêntico ao seu primo Pedro. Ela pega com cuidado e parece que boneco era de corda também, ele ficou mexendo a cabeça para um lado e para o outro, numa constante negação. Alguns bonecos começaram a se mexer também. Ou movimentando a cabeça, outros apenas os olhos, alguns que andavam se juntaram ao boneco do triciclo na porta.

De repende Alma vê a "sua" boneca. Estava lá em cima na prateleira, e olha que legal! até mudaram a roupinha dela. Está igual a minha de novo! Sem pensar duas vezes Alma começa a escalar as prateleiras mas está difícil alcançar a boneca. Ela se estica, estica e com muito esforço consegue tocar a boneca...

Silencio...
Escuro...

Alma "acorda" mas algo está errado ela não consegue se mexer. Parece que ela está atrás de um vidro, sua visão está estranha... Há um pequeno espelho na parede contrária e para seu desepero ela vê apenas a "sua" boneca. Ela demora para entender mas se dá conta que... Ela É a boneca!! As outras bonecas encaram a recém chegada, e, apesar de não terem expressão, você poderia ter certeza que elas estavam todas.... chorando...

Um click.
As bonecas ficam agitadas...
Algo se move na vitrine... Tem uma nova boneca...

Uma garotinha ruiva de vestidinho florido corre atrás do seu cachorrinho que fugiu. Ela entra num beco, mas que nunca viu antes... O cachorrinho sumiu, só há um velho muro com vários nomes escritos... pela caligrafia parece ser de crianças... Cresce na ruivinha uma vontade enorme de deixar seu nome ali também... Olha que sorte! Tem um giz bem ali!
Tem um espaço bem destacado bem no meio do muro e é ali mesmo que ela põe sua marca!

Um estalo às suas costas a assusta. Quando ela se vira para a vitrine fica impressionada! Tem uma loja de bonecas aqui? Olha! Essa boneca é igualzinho a mim!!!